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VII Congresso Brasileiro de Avaliação Psicológica
Resumo: 772-2

Oral / Poster


772-2

Avaliando a face humana e sua complexidade: que informações podemos obter?

Autores:
Ana Idalina Paiva-Silva2,1, Ricardo Pereira1, Juliana Aguiar1, Ivan Grebot1, Marta Kerr Pontes1, Wânia Souza1
1 UNB - Universidade de Brasília (Brasília), 2 UFG - Universidade Federal de Goiás (Goiânia)

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Resumo:
Resumo Geral da Mesa

A face humana é um estímulo visual complexo e de valor inestimável para a vida cotidiana. Sua implicação nas interações sociais é extensa, já que por meio da face é possível reconhecer uma pessoa como familiar ou desconhecida, ou ainda inferir o estado emocional de outras pessoas e adequar o próprio comportamento, por exemplo. Apesar de ser um fenômeno amplamente abordado em pesquisas básicas, ainda há pouca disseminação deste conhecimento na prática psicológica brasileira. Assim, o objetivo desta mesa-redonda é apresentar um panorama geral sobre a percepção e reconhecimento da face humana, ressaltando os processos cognitivos envolvidos, suas repercussões cotidianas e em transtornos neuropsiquiátricos, bem como ressaltar possibilidades metodológicas para avaliação desta habilidade. As primeiras duas falas desta mesa apresentarão bases para compreensão da percepção de face e distúrbios em que ela se apresenta comprometida, como na anosognosia, alexitimia, síndrome de Down, depressão, transtorno bipolar e esquizofrenia. As falas seguintes apresentarão formas de avaliação do reconhecimento da face, desde as formas mais clássicas (como as fotos propostas por Ekman), passando por técnicas de vídeo, morphing e faces computadorizadas, até o uso de novas tecnologias como o eye tracking. Por fim, buscar-se-á apresentar uma perspectiva da produção de técnicas e materiais nacionais ou validados com a população brasileira para avaliação do reconhecimento de faces.

Resumo Apresentador 1

Percepção de faces e reconhecimento de expressões faciais de emoções Ana Idalina de Paiva Silva; Marta Kerr Pontes; Wânia Cristina de Souza. As faces humanas podem ser facilmente percebidas pela maior parte dos indivíduos. Rapidamente é possível identificar sexo, idade, gênero, familiaridade e os estados emocionais de outras pessoas, contribuindo na articulação das relações interpessoais. O trabalho será iniciado com uma apresentação do modelo clássico de processamento de faces de Bruce e Young, bem como a versão mais recente no modelo IAC (Interactive Activation and Competition). Em seguida, será enfatizado o processamento de emoções na face. As pessoas são capazes de emitir e reconhecer diferentes emoções, algumas delas, no entanto, são amplamente reconhecidas e por isso são denominadas emoções básicas (alegria, tristeza, raiva, nojo, surpresa e medo). Serão discutidas, ainda, as bases neuropsicológicas do processamento das expressões emocionais, que ocorrem em decorrência de um complexo controle neural. O córtex motor primário parece ser o centro de comando consciente da produção de expressões faciais e regiões do córtex inferotemporal e temporal inferior (especialmente o giro fusiforme) respondem pelo reconhecimento de emoções em faces. Por fim, serão apresentadas as ocorrências de dificuldades no reconhecimento de emoções. A inabilidade de reconhecer emoções em faces está associada a transtornos psiquiátricos e lesões cerebrais em adultos e crianças. Há extensa literatura científica sobre a dificuldade de reconhecer emoções em grupos de diagnósticos específicos, sendo o espectro autista o mais estudado. Existem ainda pesquisas que apontam esta inabilidade na esquizofrenia, nos transtornos do humor, nos transtornos de ansiedade, no traumatismo cranioencefálico, acidente vascular encefálico, dentre outras condições de saúde. Espera-se, desta forma, apresentar um panorama geral da área, demonstrando a importância e as amplas repercussões desta inabilidade na vida cotidiana de muitos pacientes.

Resumo Apresentador 2

Quando o reconhecimento falha - Avaliação e intervenção em Prosopagnosia e Alexitimia Ricardo Gomes Mendes Pereira Apesar de incomuns, alterações na capacidade de identificar faces (Prosopagnosia) e no reconhecimento de emoções (Alexitimia) podem ocorrer após lesões traumáticas no sistema nervoso central e doenças neurodegenerativas. São condições limitantes, acarretando impacto na capacidade do indivíduo se relacionar socialmente com plenitude, e com poucas possibilidades de intervenção. A prosopagnosia é geralmente observada após lesões bilaterais no giro fusiforme (BA37), porém também são observados casos em que o indivíduo apresenta dificuldades congênitas no reconhecimento de faces, sendo neste caso denominada de prosopagnosia do desenvolvimento. No caso do surgimento de sintomas após lesão encefálica, geralmente é acompanhada de outras alterações no processamento visual, como acromatopsia e topografagnosia. Síndrome mais complexa, a Alexitimia é caracterizada como a dificuldade de reconhecer emoções de si mesmo e de outros. É observada em co-ocorrência com desordens do espectro do autismo e diagnósticos psiquiátricos, mas chama a atenção exames de imagem que mostram ativação diminuída em áreas associadas ao processamento emocional (como o córtex cingulado, ínsula anterior e amídala), tal como o córtex pré-frontal quando solicitados a julgar respostas emocionais de terceiros. Desordens que cursam com degradação diferencial destas áreas podem cursar com sintomatologia funcionalmente semelhante à alexitimia. Apesar de haver pouca resposta quanto a intervenção curativa direta, estratégias de reabilitação podem tentar compensar as dificuldades decorrentes da presença destes sintomas. Treino de utilização de iscas ou suporte social para diminuição da demanda do reconhecimento podem diminuir significativamente a ocorrência de situações-problema. Discutiremos estratégias de avaliação e reabilitação, em situações que por diferentes motivos o processo de reconhecimento falha.

Resumo Apresentador 3

Instrumentos clássicos e comportamentais de avaliação de faces Juliana Silva Rocha Aguiar; Ana Idalina de Paiva Silva; Wânia Cristina de Souza. Estratégias metodológicas diversas são utilizadas na avaliação do reconhecimento de emoções em faces. Em meados de 1960, Paul Ekman desenvolveu pesquisas interculturais utilizando como estímulos fotografias nas quais atores exprimiam uma expressão emocional, e pediu aos participantes para julgar a emoção subjacente à imagem. Ele observou amplo reconhecimento de seis emoções (alegria, tristeza, raiva, surpresa, nojo e medo) em diferentes culturas, corroborando a proposta que a habilidade de reconhecer emoções em faces é um processo inato, como já havia sugerido Charles Darwin em 1972. Ekman também construiu e validou um instrumento chamado Pictures of Facial Affect para tal fim, que tem sido utilizado como ferramenta padrão para avaliar o reconhecimento de emoções faciais. Este e outros instrumentos demandam que os participantes reconheçam emoções a partir de uma expressão facial estática e intensa, sendo ainda o paradigma predominante no campo. Entretanto, existem críticas quanto à validade ecológica do uso de imagens estáticas de rostos, já que no cotidiano as pessoas julgam as expressões variando em padrões de movimento e intensidade. Algumas opções de instrumentos têm sido propostas para obter maior adequação ecológica, como o uso da técnica de morphing, a qual possibilita gerar uma animação entre duas imagens estáticas e produzir expressões intermediárias que variam em intensidade para cada emoção. O resultado desta técnica pode ser em imagens estáticas ou dinâmicas, em breves vídeos. Estudos recentes indicam que procedimentos que se aproximem da realidade, como o morphing, tendem a ser um passo importante à mudança e à inovação do modelo padrão de avaliação do reconhecimento de emoções faciais.

Resumo Apresentador 4

Uso do rastreamento ocular para avaliação da percepção de faces Ivan Grebot Nenhum outro estímulo captura tanto nossa atenção como a face humana. Bebês humanos com apenas 45 horas de vida já são capazes de diferenciar faces familiares de faces não familiares. Em adição, bebês mostram preferência pela visualização de uma face humana sobre outros estímulos, o que sugere que o processamento de faces está associado à especializações cognitivas e neurais. Há uma forte relação entre o rastreamento visual e os processos atencionais, o que torna o rastreamento visual uma fonte confiável de dados e uma ferramenta importante no estudo de processos cognitivos e comportamentais, não apenas para a Psicologia, mas para diversas outras áreas. O interesse na forma como humanos reconhecem e processam faces cria portanto, a demanda por um método de acesso mais direto e preciso da direção do olhar: o rastreamento ocular (eye-tracking). Inicialmente se apresentará os principais tipos de movimentos oculares, com suas características relevantes ao rastreamento ocular e se discutirá a relação geométrica entre ângulo visual e tamanho de estímulo. Em seguida, será apresentado um breve histórico dos aparelhos de rastreamento ocular, desde as primeiras implementações, no final do século XIX, até os aparelhos usados atualmente, baseado em câmeras. Serão discutidos os principais atributos e características desses equipamentos, bem como algumas dificuldades na implementação e uso de eye-tracking. As pesquisas utilizando o rastreamento ocular em faces tem mostrado o potencial dessa técnica em indicar alterações no processamento visual de faces. Por fim, será apresentada a relação entre eye-tracking e o estudo de diversos transtornos, como transtornos de ansiedade, autismo, depressão e esquizofrenia, bem como outros transtornos onde a técnica não está necessariamente relacionados ao processamento de faces. Ao final desta fala, espera-se apresentar um panorama da técnica de rastreamento ocular, bem como sua importância no acesso de informações relacionadas ao processamento de faces.

Palavras-chave:
 Reconhecimento facial, Reconhecimento de emoções, Avaliação, Neuropsicologia