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Ferramentas em Foco – Escala de Traços de Personalidade para Crianças (ETPC)

04/03/2013

Por Fernanda Ottati

Diante da dificuldade de avaliar a personalidade em crianças, bem como a escassez de instrumentos disponíveis para essa finalidade na realidade brasileira, Sisto (2004) desenvolveu a Escala de Traços de Personalidade para Crianças – ETPC. O objetivo do autor era disponibilizar um instrumento que fosse de fácil aplicação e correção e destinado a crianças sem histórico de patologias psicológicas.

O embasamento teórico do ETPC é a teoria proposta por H. J. Eysenck e M. V. Eysenck, que consideram a personalidade como uma hierarquia de traços. O desenvolvimento e aprimoramento desta teoria ocorreu à medida que eram propostos instrumentos que avaliavam os traços, nomeados de extroversão, neuroticismo, psicoticismo e mentira. A introdução teórica do manual apresenta um bom apanhado de informações sobre a avaliação da personalidade.

O ETPC é um instrumento baseado no EPQ-J, na sua versão espanhola “Cuestionario de personalidade para niños”, de 1997, que avalia as quatro dimensões de personalidade, em crianças de 8 a 15 anos, por meio de 81 itens. Algumas adaptações foram feitas e o ETPC ficou destinado a crianças de 5 a 10 anos, avaliando quatro fatores denominados neuroticismo, psicoticismo, extroversão e sociabilidade, por meio de 30 itens. Destaca-se que a dimensão mentira não foi encontrada nos estudos realizados para o ETPC, desta forma, uma nova dimensão, que recebeu o nome de sociabilidade foi revelada.

Todo o processo de adaptação do instrumento é detalhado pelo autor no manual. A versão final do ETPC passou pelos estudos de evidência de precisão e validade. Em relação a Precisão, foram utilizados vários métodos como teste-reteste, correlações entre escalas e correlação item-item. Esta última análise revelou que na faixa etária de 7 anos a subescala neuroticismo não apresentou um bom índice de consistência, interpretado pelo autor como uma característica do traço. De forma geral, as evidências de precisão da escala são satisfatórias.

Os estudos de validade descritos no manual referem-se a cinco artigos publicados anteriormente à publicação do manual do ETPC. Três estudos estão relacionados à situação de ensino-aprendizagem e os outros dois a outras características psicológicas relacionadas a traços de personalidade, como tensão, ansiedade e percepção visomotora. Como as informações deste capítulo estão resumidas, é indicado que o psicólogo recorra aos artigos originais.

Outras análises foram realizadas, como a as relações entre os traços e idade e sexo de crianças, que permitiram a elaboração das normas de correção. Desta forma, há tabelas para cada traço, sendo que a divisão pelas idades e sexo é diferente para cada traço. Ressalta-se que as tabelas são de fácil compreensão e o critério utilizado é o quartil. A interpretação da pontuação de cada traço de personalidade é explicado, possibilitando uma boa compreensão do seu significado.

O autor faz uma importante ressalva sobre o objetivo do instrumento, que não tem fins diagnósticos. Esclarece aos usuários que as crianças “devem ser analisadas como crianças que são: pessoas em fase de aquisição de experiências e formas de lidar com o mundo, que não estejam necessariamente ainda estabelecidas” (Sisto, 2004, p.79).


Referência:

Sisto, F. F. (2004). Escala de traços de personalidade para crianças (ETPC). Manual técnico. São Paulo: Vetor Editora.