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8º Congresso Brasileiro de Avaliação Psicológica
Resumo: 607-1

Mesa-Redonda


607-1

Autorrelato e estilos de resposta: conceitos e estratégias de modelagem estatística

Autores:
NELSON1, Ricardo Primi1, Cristian Zanon1, Felipe Valentini2
1 USF - Universidade São Francisco, 2 UNIVERSO - Universidade Salgado de Oliveira

Resumo:
Resumo Geral da Mesa

Instrumentos psicométricos de autorrelato oferecem diversas vantagens à pesquisa psicológica: são simples e rápidos de aplicar, prescindem de treinamento e – talvez o mais importante – captam a informação psicológica de interesse direto de sua fonte primária, o indivíduo respondente. Não obstante, apesar dos prós, o autorrelato é também suscetível a alguns vieses conhecidos como estilos de resposta. Estilos de resposta ocorrem quando o examinando possui algum tipo de tendência a usar a escala de resposta independentemente do conteúdo dos itens. Certos respondentes, por exemplo, podem ter uma propensão a usar os extremos da escala, pontuando a maioria dos itens em 1 e 5. Outros respondentes, ao contrário, podem preferir usar o ponto central da escala, e evitar, sistematicamente, os escores extremos. Ainda, há indivíduos que tendem a concordar com todos os itens de um instrumento, mesmo que disso resulte incoerência entre as respostas. Quando presentes em um banco de dados, todos esses estilos introduzem variância comum sistemática que, em modelos tradicionais de análise de itens (análise fatorial e Teoria de Resposta ao Item), pode ser confundida com a variância verdadeira referente ao traço latente genuíno. Ao atenuar ou então acentuar correlações entre itens, estilos de resposta podem distorcer a estrutura fatorial de um instrumento, afetando médias latentes, cargas fatoriais e interceptos ou parâmetros de dificuldade. Em análises com variáveis externas, o resultado dessa influência indesejável dos estilos de resposta pode surgir em forma de atenuação ou ainda realce de diferenças entre grupos ou coeficientes de regressão. Evidentemente, esse impacto traz consequências indesejáveis para o teste de hipóteses e o desenvolvimento da teoria psicológica de maneira geral. A presente mesa redonda tem o propósito de apresentar algumas abordagens de controle racional e estatístico de estilos de resposta na modelagem de variáveis relacionadas à personalidade e à psicopatologia. Ao longo de quatro apresentações, são descritas e ilustradas estratégias de lidar com respostas extremas, aquiescência e respostas descuidadas, entre outros. Todas essas estratégias trazem a promessa de proporcionar um refinamento à modelagem de dados coletados usando o autorrelato.

Resumo Apresentador 1

Modelagem multidimensional de estilos de resposta: inventários da Tríade Sombria da personalidade Apresentador: Prof. Dr. Nelson Hauck (Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia, Universidade São Francisco) Resumo Estilos de resposta extrema e aquiescente/desaquiescente podem distorcer a matriz de correlações de itens, interferindo na validade de inventários de autorrelato. Esse impacto indesejável pode prejudicar a pesquisa a respeito dos traços sombrios da personalidade, como a psicopatia (isto é, insensibilidade e desapego emocional), o narcisismo (isto é, grandiosidade e intitulação) e o maquiavelismo (isto é, cinismo e amoralidade). O objetivo deste trabalho é investigar a influência dos estilos de resposta extrema e aquiescente/desaquiescente na estrutura fatorial e nas associações externas de dois inventários da Tríade Sombria da personalidade, o Dirty Dozen e o Short Dark Triad. Os participantes do estudo foram 456 estudantes universitários, sendo 64% mulheres (M = 23,47 anos, DP = 6,76). Os participantes responderam aos instrumentos DD e SDT, e também ao Big Five Inventory e a uma série de questões sobre uso de substâncias. As análises indicaram que, em ambos os instrumentos, houve a tendência de emergir um fator geral explicando a variância comum a todos os itens. Não obstante, para ambos os instrumentos, a estrutura dos fatores específicos se mostrou de difícil interpretação. Contudo, ao controlar estilos de resposta, a estrutura fatorial se mostrou mais facilmente interpretável como correspondente à Tríade Sombria, sendo também menos plausível um fator geral. Além disso, o controle dos estilos produziu uma modificação na associação externa dos fatores da Tríade Sombria com os cinco grandes fatores e com o uso de substâncias. Os achados sugerem que não controlar estilos de resposta pode levar a conclusões incorretas acerca da estrutura fatorial e das associações externas de inventários típicos da Tríade Sombria da personalidade.

Resumo Apresentador 2

Avaliação da personalidade via autorrelato em crianças: métodos de estatísticos de controle de viés de estilos de resposta Apresentador: Prof. Dr. Ricardo Primi (Laboratório de Avaliação Psicológica e Educacional, Universidade São Francisco e EduLab21, Instituto Ayrton Senna) Resumo Estilos de resposta consistem em erros sistemáticos ao responder inventários de autorrelato com resposta em escalas Likert que ameaçam a validade dos dados obtidos. Por exemplo, pessoas que sistematicamente usam, com mais frequência, pontos extremos da escala tenderão a ter escores mais altos no instrumento, ainda que possam não ter, de fato, aquele traço mais saliente. Há um conjunto de estilos conhecidos como uso de pontos extremos, uso de pontos do meio, aquiescência, resposta influenciada por desejabilidade social e viés de grupo de referência. Em crianças, esses problemas são ainda mais intensos. Várias características das medidas são afetadas se considerarmos os modelos de medida para inventários de autorrelato ao longo do desenvolvimento como o aspecto configural (estrutura fatorial), métrico (cargas fatoriais) e escalar (dificuldade dos itens). Essa apresentação irá ilustrar as técnicas de controle desses vieses (controle de aquiescência e vinhetas âncora) que estão sendo implementadas no instrumento SENNA, um inventário para medida das habilidades socioemocionais mapeadas no modelo dos cinco grandes fatores em crianças. A discussão abordará as vantagens e limitações dessas técnicas e implicações para o entendimento do desenvolvimento na infância e adolescência.

Resumo Apresentador 3

Comparação de Métodos para Controle da Aquiescência em Avaliações da Personalidade por meio de Autorrelato. Apresentador: Prof. Dr. Cristian Zanon (Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia, Universidade São Francisco) Resumo A avaliação da personalidade por meio do autorrelato constitui um método válido, eficiente e, relativamente, barato para objetivos low-stakes. Historicamente, investiga-se o efeito de estilos de resposta dos participantes aos itens como fatores que ameaçam a validade das escalas, já que os estilos de resposta produzem variância irrelevante ao construto. Um estilo de resposta bastante conhecido é a aquiescência, que se caracteriza pelo endosso a itens em escalas Likert, independentemente, do conteúdo. A aquiescência é estimada através da coerência das respostas entre itens opostos (positivos e negativos). Por exemplo, em uma escala de sete pontos, espera-se que se alguém assinala sete para um item que diz “sou tímido”, seria esperado uma resposta baixa (um ou dois) para outro item que diz “sou extrovertido” – do contrário, a resposta indica incoerência. Um método simples para estimação da aquiescência consiste em: a) calcular uma média de itens opostos, b) calcular um desvio-padrão de itens opostos, c) subtrair o escores de cada item pela média de itens opostos, e d) dividir a subtração do passo “c” pelo desvio-padrão do conjunto de itens opostos. Este procedimento remove a parcela de variância referente à incoerência das respostas. Outro método, mais recente, conhecido como Modelo do Intercepto Randômico, estruturado via structural equation modeling, modela a diferença individual sistemática de respostas, não captada pelos fatores comuns, através da variação dos interceptos entre os participantes. Nesse modelo, usa-se o mesmo intercepto em todos os itens para cada pessoa, mas permitindo a sua variação entre as pessoas. Este estudo objetivou comparar a estrutura produzida, em termos de distribuição das cargas fatoriais nos fatores, por ambos os métodos. Participantes da amostra foram, aproximadamente, 800 universitários que responderam ao Inventário Big Five em salas de aula. A discussão deste estudo foca na adequação das soluções produzidas.

Resumo Apresentador 4

Controle da aquiescência em variáveis multiníveis. Apresentador: Prof. Dr. Felipe Valentini & Érika Guimarães Soares de Azevedo Andrade (Laboratório de Medidas em Psicologia, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia, Universidade Salgado de Oliveira) Resumo A aquiescência é um estilo de resposta associado à tendência de responder a escalas likert de maneira positiva (i.e. endossar as categorias mais altas da escala) independente do conteúdo dos itens. No polo oposto, a desaquiescência está associada à tendência de endossar as categorias mais baixas da escala. Esses estilos acrescentam variância sistemática não associada ao conteúdo teórico dos itens e, consequentemente, tendem a introduzir vieses na matriz de correlações entre os itens, bem como na estrutura interna do instrumento. Para itens, de escalas multiníveis, que avaliam fatores teóricos de grupo, no entanto, mensurados por indivíduos (por exemplo, feedback dos líderes), as consequências negativas do viés de resposta podem ser ainda mais prejudiciais à avaliação da estrutura do instrumento. Nesse contexto, essa apresentação visa discutir as implicações do controle de viés de resposta, por meio de itens invertidos, em escalas de estrutura multinível. Especificamente, buscar-se-á comparar a correlação intra-classe dos itens em três modelagens: modelo com os escores originais (sem controle de viés de resposta); escores ipsatizados (transformação linear dos escores brutos a partir da média dos itens positivos e negativos); modelo de interceptos randômicos (estimação de uma ‘variável latente’ associada ao viés de resposta). Para tanto, será utilizado um banco de dados de 50 empresas e 10 funcionários (por empresa, totalizando 500 participantes). Todos responderam a uma escala de suporte à aprendizagem oferecido pela empresa. A discussão abordará as vantagens e limitações do controle do viés de resposta nos modelos de agregação latente multinível.

Palavras-chave:
 Estilos de resposta, Aquiescência, Respostas extremas, Modelos de Equações Estruturais, Teoria de Resposta ao Item