Carolina Rosa Campos
Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM)
A área de avaliação psicológica no Brasil vem despertando grande interesse nos últimos anos quanto aos aspectos relacionados a diversidade, garantia de direitos humanos e processos equitativos para pessoas com deficiência. Nesse sentido, a avaliação psicológica inclusiva tem ganhado notoriedade com o objetivo de buscar alternativas que amparem os processos avaliativos de forma a garantir a assistência a essa população, principalmente quanto ao acesso aos instrumentos e processos.
Esforços vêm sendo observados por parte de pesquisadores diante de estudos que buscam por construção de instrumentos psicológicos direcionados a essa população, bem como que compreendam as diferentes formas de acesso e possibilidade de avaliação das pessoas com algum tipo de deficiência. Algumas iniciativas são importantes de serem citadas como o Prêmio Profissional Avaliação Psicológica direcionada a Pessoas com Deficiência, organizado pelo Conselho Federal de Psicologia, em comemoração aos 15 anos do Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos (Satepsi), em 2018, que gerou publicações de domínio público (https://satepsi.cfp.org.br/docs/CFP_livrodigital_premio2.pdf), assim como publicações brasileiras em formato de artigos científicos, capítulos de livros e livros sobre o tema (Alves & Nakano, 2015; Barros, 2019; Campos & Chueiri, 2022; Campos & Nakano, 2014; 2016; 2019; Campos & Oliveira, 2019; Cipriano & Zaqueu, 2022; Oliveira, 2013; Oliveira, Nuernberg, & Nunes, 2013; Oliveira & Nunes, 2015; Roama-Alves & Nakano, 2021). Vale destacar que a literatura é ampla considerando a temática da deficiência, porém ainda pouco se investe em instrumentos psicológicos direcionados a este fim.
Dentro deste ínterim, há também a articulação com áreas correlatas como a Psicologia do Esporte e, mais especificamente, acerca de paratletas, tema que também vem ganhando visibilidade dentro do contexto de avaliação psicológica. Isso porque, dentre os contextos existentes de inclusão, destaca-se o esportivo, no qual há uma busca por adaptação prática do ambiente de atuação, de forma planejada, por meio de ações que visam ajustar o ambiente social à deficiência experimentada pelo indivíduo (Blauwet & Willick, 2012; Duarte & Lima, 2003). Nesse sentido, nota-se também a importância de estudos que visem abranger a compreensão da população em relação aos fenômenos psicológicos. Algumas iniciativas podem ser encontradas em materiais científicos publicados, embora ainda escassos (Campos & Alves, 2019; Campos & Oliveira, 2020; Esteves, Silva, Barreto, Cavagnolli, Ortega, Parsons, Tubiba, Barreto, Oliveira Filho, Tufik, & Mello, 2015).
Sendo assim, a intenção deste texto foi apresentar possíveis caminhos, embora ainda pouco explorados, mas, necessários para viabilizar processos de avaliação psicológica inclusiva, pensando, principalmente, no público com deficiência. Ainda, de forma otimista, espera-se estimular pesquisadores a se arriscarem nesta trajetória, a qual busca por fim, deslumbrar uma Psicologia mais diversa, justa e equitativa em suas teorias e práticas.
Referências
Alves, R. J. R., & Nakano, T. D. C. (2015). A dupla-excepcionalidade: relações entre altas habilidades/superdotação com a síndrome de Asperger, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade e transtornos de aprendizagem. Revista Psicopedagogia, 32(99), 346-360.
Barros, L. O. (2019). Avaliação psicológica de pessoas com deficiência: reflexões para práticas inclusivas. In Conselho Federal de Psicologia. Prêmio profissional avaliação psicológica direcionada a pessoas com deficiência. (pp. 34-48). Conselho Federal de Psicologia.
Blauwet, C., & Willick, S. E. (2012). The Paralympic Movement: Using Sports to Promote Health, Disability Rights, and Social Integration for Athletes With Disabilities. PM&R, 4(11), 851–856. doi: 10.1016/j.pmrj.2012.08.015
Campos, C. R. & Alves, R. J. R. (2019). Importância do esporte para o desenvolvimento psicossocial do atleta com deficiência. Em Peixoto, E. M. & Nakano, T. C. (2019). Psicologia do esporte e desenvolvimento humano (p. 110 - 124). Maringá: Viseu.
Campos, C. R. & Chueiri, M. S. (2022). Avaliação Psicológica Inclusiva: contexto clínico. Editora Artesã.
Campos, C. R., & Nakano, T. C. (2014). Avaliação cognitiva de crianças com deficiência visual: conhecimento de recursos multidisciplinares utilizados nas instituições de atendimento. In C.R. Campos, & T.C. Nakano (Orgs.), Avaliação Psicológica Direcionada a Populações Específicas: Técnicas, Métodos e Estratégias - Vol. 1 (pp. 7-25). Vetor Editora.
Campos, C. R., & Nakano, T. C. (2016). Escala de avaliação de inteligência para crianças de cientes visuais – versão professor: estudo de validade de conteúdo. Revista Ciência e Cognição, 21(2), 155-171.
Campos, C. R., & Nakano, T. C. (2019). Avaliação psicológica direcionada a populações específicas: técnicas, métodos e estratégias - Vol. 2. Vetor Editora.
Campos, C. R., & Oliveira, C. M. (2019). Desenvolvimento de instrumentos psicológicos para população com deficiência. In C. R., Campos, & T.C. Nakano (Org.). Avaliação Psicológica Direcionada a Populações Específicas: Técnicas, Métodos e Estratégias - Vol. 2 (pp. 9-30). Vetor Editora.
Campos. C. R. & Oliveira, K. S. (2020). A prática esportiva em atletas paralímpicos:possíveis contribuições da Psicologia Positiva. In: E. M. Peixoto & T. C. Nakano. (Org.). Psicologia Positiva aplicada ao esporte e exercício físico. (pp.71-80). Vetor Editora.
Cipriano, J. A. ., & Zaqueu, L. da C. C. (2022). A dupla excepcionalidade altas habilidades/superdotação associada ao transtorno do espectro autista: compreendendo as especificidades . Conjecturas, 22(1), 1023–1041. https://doi.org/10.53660/CONJ-547-802.
Duarte, E., & Lima, S. M. T. (2003). Atividade física: para pessoas com necessidades especiais: experiências e intervenções pedagógicas. Guanabara: Koogan.
Esteves, A. M., Silva, A., Barreto, A., Cavagnolli, D. A., Ortega, L .S. A., Parsons, A., Tubiba, E. R., Barreto, M., Oliveira Filho, W., Tufik, S., & Mello, M. T. (2015). Avaliação da qualidade de vida e do sono de atletas paralímpicos brasileiros. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, 21(1), 53-56. https://dx.doi.org/10.1590/1517-86922015210101980
Oliveira, C. M. (2013). Evidências de Validade de uma Bateria Informatizada para Avaliação da Personalidade Adaptada ao Desenho Universal [Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de Santa Catarina]. Repositório Institucional UFSC. https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/107335/317793.pdf?sequence=1&isAllowed=y
Oliveira, C. M., & Nunes, C. H. S. S. (2015). Instrumentos para Avaliação Psicológica de Pessoas com Deficiência Visual: Tecnologias para Desenvolvimento e Adaptação. Psicologia: Ciência e Profissão, 35(3), 886-899. https://doi.org/10.1590/1982-3703001902013
Oliveira, C. M., Nuernberg, A. H., & da Silva Nunes, C. H. S. (2013). Desenho universal e avaliação psicológica na perspectiva dos direitos humanos. Avaliação Psicológica, 12(3), 421-428.
Roama-Alves, R. J., & de Cássia Nakano, T. (2021). Dupla excepcionalidade: altas habilidades/superdotação nos transtornos neuropsiquiátricos. Vetor Editora.