Por Fernando Pessotto
Na Psicologia não são raros os temas que carecem de consenso por parte dos profissionais, atributo esse facilmente observável no campo da avaliação psicológica. Desde seu início, a avaliação psicológica se caracterizou por trazer temas permeados por dúvidas e críticas, seja pela não aceitação ou mesmo pelas diferentes opiniões. As críticas vão desde a formação do psicólogo até a prática profissional, sendo que ambos são apontados, muitas vezes, como deficitários.
No que se refere especificamente à formação em psicologia, fica evidente uma deficiência geral, e consequentemente, na avaliação psicológica. O tempo de graduação mostra-se insuficiente, levando à necessidade de cursos e atualizações posteriores. Além disso, algumas vezes, os professores têm demonstrado despreparo e acabam por contribuir para a má (in)formação dos futuros psicólogos, transmitindo conteúdos relacionados à avaliação psicológica de forma superficial, focando apenas aplicações e correções de testes, deixando de lado o fato de eles possuírem limitações e ainda de serem parte de um processo em que outros conhecimentos e procedimentos se fazem necessários. Essa questão influencia diretamente na prática do psicólogo, pois a avaliação psicológica está presente nas mais diversas áreas de atuação, como na clínica ou na área hospitalar, ao averiguar uma psicopatologia, nas organizações, utilizando-se de instrumentos para a seleção dos candidatos, na jurídica, ao se elaborar um laudo quando uma avaliação é solicitava por um juiz, entre outras.
Ao lado disso, outro ponto intimamente ligado à avaliação psicológica é o campo da pesquisa científica. É também na formação que a falta de incentivo à pesquisa ou mesmo a necessidade de constante atualização se inicia e acaba por permear a vida profissional do psicólogo. A prática da pesquisa nas universidades ou ainda, a busca por atualizações que levam o psicólogo a perguntar, questionar, sugerir, ou seja, que mantém o “saber psicológico” em constante movimento, deveria estar presente no cotidiano deste profissional. Em particular, na avaliação psicológica, a prática da pesquisa é indispensável, pois é por meio da constante atualização e aprimoramento das teorias e instrumentos que a área se desenvolve e proporciona a utilização de testes e técnicas funcionais e confiáveis. Além disso, o método científico e o processo em avaliação psicológica caminham lado a lado, compartilhando delineamentos e procedimentos.
Os testes e técnicas psicológicas também são alvo de críticas, devido aos resultados e decisões que se derivam deles. Também esse fato está intimamente ligado às questões de formação apresentadas anteriormente, já que a deficiência neste processo acaba por proporcionar profissionais despreparados para a demanda do mercado. Isso acarreta processos referentes à má atuação dos psicólogos; psicólogos estes que, muitas vezes vêm de uma graduação de atitude passiva, acostumada a apenas repetir procedimentos aprendidos, sem que se haja uma construção a partir dos conhecimentos adquiridos.
Sobre essa questão, algumas pesquisas têm demonstrado que o uso inadequado dos testes psicológicos é visto como o maior problema para a avaliação, muitas vezes por falta de interesse do profissional em se atualizar ou ainda pela não compreensão dos manuais. Esse é mais um ponto que pode ser relacionado a uma qualidade precária da formação ou ainda da formulação do instrumento, para o qual, como citado anteriormente, algumas vezes não há uma análise crítica por parte do profissional que faz uso das ferramentas.
Atestada a importância da área e a necessidade de avanços, muitas iniciativas foram tomadas na última década e persistem em um processo contínuo. Por exemplo, as exigências para o desenvolvimento, publicação e utilização dos testes têm sido mais rigorosas. Nota-se também uma maior importância nos laboratórios acadêmicos acerca do tema, gerando um maior número de pesquisas e consequente melhora na qualidade do trabalho realizado nos mesmos. Ao lado disso, a Assembleia das Políticas, da Administração e das Finanças do Sistema de Conselhos de Psicologia (APAF), realizada em dezembro do ano passado, elegeu 2011 o Ano da Avaliação Psicológica, em que serão discutidos temas como os critérios de reconhecimento e validação a partir dos Direitos Humanos, a avaliação enquanto um processo, as relações institucionais pertinentes e a formação em si.
Mas o que fazer com a grande quantidade de psicólogos inseridos no mercado, que necessitam de auxílio direto em relação à avaliação psicológica? Talvez essa questão nos leve a uma reflexão com respeito à pergunta que dá título a este texto. É na tentativa de auxiliar nessas reflexões que se enquadra o Boletim Avaliação em Foco, buscando se integrar como uma possível contribuição, auxiliando de forma direta e prática as questões levantadas anteriormente. De maneira mais ampla, a finalidade é oferecer informação aos psicólogos para que as técnicas e procedimentos utilizados na avaliação psicológica sejam executados cada vez mais de maneira adequada.