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Psicometria

14/07/2011

Por Lucas de Francisco Carvalho

Nas diferentes áreas de estudo em psicologia, a psicometria é um campo constantemente presente. Em uma perspectiva internacional, frequentemente faz parte da prática clínica e de pesquisa. No Brasil, entretanto, é um campo mais relacionado à pesquisa científica. Algo poderia ser debatido acerca dessa ruptura em nosso país, mas não faz parte do escopo deste texto. De fato, os parágrafos que aqui se seguem tentam responder, de maneira concisa, uma pergunta objetiva: o que é psicometria? Para tanto, optou-se por abordar, ainda que brevemente, alguns aspectos históricos relacionados à origem e definição desse termo.

Para tratar da definição de psicometria e, inevitavelmente, as origens da mesma, um possível caminho é ressaltando a fundação da própria psicologia. Dois importantes pesquisadores da história da psicologia, Duane P. Schultz e Sydney E. Schultz, explicam que é praticamente impossível dizer quando a psicologia se originou, já que sua origem não apresenta uma só data, ela foi acontecendo ao longo dos anos. Ainda assim, de acordo com os autores, é certamente possível apontar sua fundação.

É consensual que a fundação da psicologia ocorreu no final do século XIX em Leipzig, na Alemanha, no laboratório de Wilhelm M. Wundt. Prioritariamente, eram realizados estudos utilizando o método da introspecção e outros relacionados à psicologia experimental da época. Para o desenvolvimento desses estudos, Wundt e pesquisadores que por lá passaram utilizavam do conhecimento da estatística aplicada a pesquisas denominadas como da área da psicologia, retratando os primeiros passos da psicometria na psicologia. Entre as figuras que se tornaram importantes na psicometria e tiveram relação com o laboratório de Wundt, muitas vezes se doutorando, pode-se destacar Ernst H. Weber, Gustav T. Fechner e James M. Cattell. Todos eles utilizaram a psicometria para ampliar seus estudos nos diferentes construtos psicológicos.

Ao lado disso, também em meados do século XIX, e tão importante quando Wundt, foi Francis Galton, que também aplicava amplamente seus conhecimentos em psicometria para realização de pesquisas. Por exemplo, desenvolveu a fórmula estatística que posteriormente deu origem para as análises de correlação e regressão (de fato, sua fórmula serviu como base para os estudos de um de seus alunos, Karl Pearson, que desenvolveu a correlação produto-momento de Pearson). Também estudaram com Galton alguns nomes que se tornaram importantes em psicometria, um exemplo foi Cattell.

Na continuidade, já no início do século XX, foi desenvolvido pelo francês Alfred Binet o instrumento que ficou considerado como o primeiro teste psicológico. Em seus estudos ele buscava aprimorar medidas para avaliação da inteligência, sendo que em 1911 seu teste já havia passado por três revisões. Em 1916, Lewis Terman desenvolveu o teste chamado de Stanford-Binet, baseado no instrumento desenvolvido por Binet. Nessa mesma época, com o advento da Primeira Guerra Mundial, houve um crescimento abrupto no campo de estudo da testagem psicológica (sobretudo, nas áreas da inteligência e personalidade), e naturalmente da psicometria. Prioritariamente, esse crescimento se deu pela demanda de selecionar da maneira mais satisfatória possível recrutas para a guerra.

A partir dessa breve explanação acerca da fundação da psicologia, pode-se observar que a psicometria foi utilizada pelos primeiros estudiosos, já no final do século XIX é que se realizaram experimentos com construtos psicológicos. É notável que o uso da psicometria na ciência psicológica persistiu ao longo do tempo e configura, nos dias mais atuais, importante campo de estudo e aplicação em diferentes áreas. Além disso, em comparação ao uso inicial da psicometria, muitos foram os avanços em pouco mais de um século de estudos (vide o aprofundamento de diversos campos da Teoria Clássica dos Testes, bem como o aparecimento de novos modelos, como a Teoria de Resposta ao Item).

De qualquer maneira, e respondendo à questão inicial deste texto, tanto em seus primórdios como nos dias atuais, a psicometria diz respeito ao estudo da atribuição de medidas e números sobre as operações psicológicas (ou como também pode ser chamada, operações “da mente”). Em outras palavras, é um campo de estudo que faz uso de componentes das ciências exatas, e mais especificamente da estatística, na tentativa de analisar e compreender o funcionamento psicológico. Além disso, a psicometria tem seu foco voltado para teorias e técnicas de mensuração dos diversos construtos psicológicos (por exemplo, habilidades, atitudes e traços de personalidade).

No Brasil, psicólogos têm aproximado cada vez mais a psicometria de seu cotidiano profissional. Por exemplo, ao ler um artigo ou um manual de um teste, observando tabelas percentílicas ou dados de significância sobre a diferença entre grupos ou relações entre variáveis. Contudo, essa aproximação ainda está muito longe do que se espera desse profissional, o que provavelmente pode ser explicado, ainda que parcialmente, por lacunas na formação em psicologia no país. Cabe a nós, então, partindo de uma postura ética profissional que, entre outros pontos, ressalta a importância da realização de um trabalho de qualidade, assegurarmos a capacitação nos diversos conhecimentos relacionados à psicologia para um trabalho de excelência.